Eu parto, mas nunca por inteiro
Woodford, Inglaterra | 11 de junho de 2025
Sinto uma lágrima escorrer e me dou conta de que estou chorando, mas não é pra menos. Esse tipo de coragem me emociona de forma profunda.
Na tela, passam cenas do documentário da Tamara Klink. Não pisco. Atenta aos takes e ao texto que me atravessam. Ela diz, em um trecho:
“Partir é um gesto dolorido. Eu corto as raízes novas com essa terra e renuncio às relações urgentes e tentadoras. Eu forço os meus pés a desapegar do chão. De novo, é preciso acomodar as raízes novas e velhas em um vaso. Fazer as pazes com a solitude. Retornar ao refúgio flutuante e deixar o coração selvagem dar sinal de partida.”
As palavras dela ecoam em mim como se fossem minhas.
Partir me parte em tantos pedaços, mas em vez de juntá-los, eu simplesmente os deixo para trás. Como um rastro, um possível caminho de volta ou um ponto de partida para quem fica.
Tudo que eu levo dos lugares de onde parto são lembranças frescas. Fotos que eu ainda quero revelar. Histórias que eu quero contar. Perspectivas únicas de uma vida vivida. Nada que ocupe espaço na mala ou que eu possa perder no caminho.
Parto porque eu preciso — meu tempo é limitado, e não digo isso apenas como turista. Mas com a certeza de que eu volto.
Algumas despedidas são mais difíceis — e a que se aproxima, eu sei, vai doer. Me antecipo à dor da partida e me questiono sobre o efeito borboleta. Se eu não tivesse partido da Albânia com destino à Inglaterra, eu não teria conhecido an Elizabeth e essa família pela qual tenho um profundo carinho.
Paro e repito: nada é por acaso, como um mantra. Porque, baseado principalmente nos últimos nove meses… não é possível que seja, é?
Em doze dias, eu parto para viver novos encontros inesperados, por mim. E mesmo que agora eu já esteja despedaçada, sei que esse laço invisível permanecerá. Independente da distância ou do tempo.
Enxugo minhas lágrimas e me dou conta de que sou tão corajosa quanto a Tamara. Porque difícil não é velejar sozinha ou entrar em um avião e decidir não voltar.
Difícil é partir.
Para todo encontro, uma despedida.
Felizmente, eu já parei de contar.
Helo Sansi